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Por: Fábio Iwakura
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Nos últimos anos, o mercado de trabalho tem mudado de forma rápida. Uma dessas mudanças está ligada ao comportamento da geração Z, formada pelos jovens nascidos entre meados de 1995 e 2010. Pesquisas mostram que esses profissionais ficam, em média, apenas 1 ano e 1 mês no primeiro emprego. Já a geração anterior costumava permanecer entre 2 a 3 anos. Parece um detalhe, mas, para quem administra uma clínica odontológica, isso pode significar dores de cabeça constantes: mais tempo e dinheiro gastos com recrutamento, treinamento e adaptação de novos colaboradores.
Você, que é dentista gestor, sabe bem o quanto cada funcionário faz diferença no dia a dia. Uma recepcionista atenciosa transmite segurança logo na chegada do paciente. Um auxiliar motivado ajuda a agilizar o atendimento e evita atrasos. E até aquele dentista recém-formado pode, com o tempo, se tornar um braço direito na clínica. Mas se essas pessoas não ficam na equipe, a clínica vive em um ciclo de instabilidade — e isso acaba afetando a qualidade do atendimento e até a fidelização dos pacientes.
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O que a geração Z procura no trabalho
A grande pergunta é: por que a geração Z troca tanto de emprego?
Ao contrário das gerações anteriores, que valorizavam estabilidade, a geração Z busca propósito, desenvolvimento e qualidade de vida. Como já apontava Zygmunt Bauman, na obra Modernidade Líquida, vivemos uma época de vínculos mais frágeis e transitórios. Isso significa que esses jovens não se sentem presos a um emprego apenas pelo salário: eles querem crescer, aprender, sentir-se parte de algo maior.
Eles valorizam líderes próximos, que saibam ouvir, orientar e dar feedback. Desejam ambientes de trabalho flexíveis, oportunidades claras de desenvolvimento e reconhecimento frequente. Quando percebem que isso não existe, não hesitam em buscar outra clínica ou empresa.
Outro ponto é o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Rotinas pesadas, pouca valorização e falta de benefícios afastam esses profissionais rapidamente. Eles não veem problema em trocar de emprego até encontrar um lugar onde se sintam mais felizes e realizados.
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O que sua clínica pode fazer para reter esses jovens talentos
Aqui entra o grande desafio: como manter a geração Z motivada e fiel à sua clínica?
O primeiro passo é rever o estilo de gestão. Modelos autoritários, baseados apenas em ordens, já não funcionam. Essa geração prefere líderes que inspirem, que mostrem o caminho, que tenham paciência para orientar.
Outro ponto é oferecer benefícios reais. Não precisa ser algo impossível ou caro. Muitas vezes, pequenos gestos fazem grande diferença. Veja alguns exemplos que podem ser aplicados em clínicas odontológicas:
- Apoio em cursos e treinamentos: contribuir com parte do valor de um curso de aperfeiçoamento para o auxiliar ou para a recepcionista pode gerar imensa gratidão.
- Plano de saúde ou odontológico: pode ser até um convênio simples, mas que mostra cuidado com o bem-estar do colaborador.
- Auxílio alimentação ou transporte: um benefício que ajuda no dia a dia e demonstra valorização.
- Momentos de descontração em equipe: comemorar aniversários, fazer uma confraternização trimestral ou até pequenas pausas de café juntos reforçam o sentimento de pertencimento.
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Além dos benefícios, há outro ponto essencial: desenvolvimento pessoal e profissional. Essa geração quer crescer. Por isso, invista em:
- Treinamentos de atendimento e comunicação.
- Cursos internos para ensinar rotinas da clínica.
- Oportunidade de participar de eventos e palestras.
- Planos de carreira simples, mostrando como cada colaborador pode evoluir dentro da clínica.
Essas ações não só aumentam a motivação, como também reduzem a rotatividade. Afinal, quando um funcionário sente que está aprendendo e sendo cuidado, pensa duas vezes antes de deixar a empresa.
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Compreender para crescer
Talvez você esteja pensando: “Mas isso tudo dá trabalho, e eu não sou gestor, sou dentista”. E você tem razão: não é fácil. Mas a boa notícia é que pequenas mudanças já geram grandes resultados. O segredo está em compreender que o seu consultório não depende apenas da qualidade técnica dos dentistas, mas também da qualidade da equipe como um todo.
Se você continuar tratando colaboradores apenas como peças substituíveis, enfrentará demissões constantes, instabilidade e queda na qualidade dos atendimentos. Mas se passar a enxergar seus funcionários como parceiros de crescimento, oferecendo benefícios, desenvolvimento e reconhecimento, criará um ambiente em que eles vão querer ficar.
No fim das contas, a geração Z não busca apenas um salário. Eles procuram um lugar onde possam crescer, sentir-se valorizados e encontrar propósito.
E aqui vai a reflexão final: da mesma forma que você se preocupa em fidelizar pacientes, precisa também fidelizar sua equipe. Uma clínica que consegue reter seus colaboradores ganha não só em produtividade, mas também em reputação, qualidade de atendimento e satisfação dos próprios pacientes.